Cobra azul resgatada no sul baiano recebe nome em homenagem a Rita Lee

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Uma cobra resgatada em Eunápolis, na Costa do Descobrimento, no sul da Bahia, foi batizada com o nome de Rita Lee. O réptil – de cor azul e da espécie Trimeresurus insularis – estava em condições precárias junto com outras 59 cobras dentro de um ônibus, que tinha saído de São Paulo com destino a Feira de Santana. A ação foi feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A homenagem à roqueira, que faleceu em maio do ano passado, se deve à ligação que a artista tinha com esses animais. Atualmente, a serpente está no Museu Biológico do Instituto Butantan, em São Paulo (SP). A espécie é proveniente de ilhas da Indonésia, na Ásia.

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A Trimeresurus insularis chegou ao Butantan em 9 de fevereiro de 2023. Ela foi resgatada na Bahia com outros 59 animais que estavam sendo transportados ilegalmente dentro de um ônibus vindo de São Paulo. Os animais foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal e levados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres de Porto Seguro (BA). De lá, alguns foram trazidos ao Instituto, onde passaram por um período de quarentena até se instalarem no Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan.

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“Montamos um espaço com galhos de árvores e vegetação semelhante ao habitat natural da espécie para ajudar na adaptação. A serpente ficou uns dias sem querer se alimentar e praticamente não se locomovia até se sentir segura. Mas agora já está se alimentando normalmente”, conta a pesquisadora científica e coordenadora de manutenção animal do museu, Silvia Cardoso.

bióloga havia preparado o ambiente para receber o casal de Trimeresurus insularis que estava sendo transportado junto. A fêmea, mais avantajada, embora tão bela e azulada quanto o macho, chegou em situação ainda mais precária ao Butantan e morreu dois dias depois.

Coube ao Menino Bonito sobrevivente se adaptar à nova vida, com a sorte de passar a ser cuidado por uma equipe de biólogos que entende as particularidades da serpente proveniente de ilhas da Indonésia.

“É uma espécie arborícola, por isso tem preferência em ficar no topo das árvores, raramente descendo ao chão. Assim, fizemos a ambientação de um recinto com galhos de diferentes espessuras, cipós, rochas, abrigos e aquecimento, para ela escolher os locais de sua preferência para repouso, locomoção e alimentação”, explica a bióloga.

A ocorrência da cor azul entre as víboras-de-lábios-brancos é considerada incomum, já que a maioria delas é esverdeada. “Esse padrão ocorre somente em algumas ilhas da Indonésia e se trata de um polimorfismo de cor, ou seja, quando espécies sofrem variações de cor, tamanho ou comportamento por questões ambientais e evolutivas, explica o biólogo e herpetólogo do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan Francisco Luís Franco.

A cor também pode ser uma forma de o animal se camuflar no ambiente para fugir de predadores e enganar suas presas. “É o que chamamos de cores miméticas, feitas para confundir”, afirma o pesquisador científico e diretor do laboratório de Biologia Estrutural, Carlos Jared.

À noite, a espécie também se alimenta de pequenos mamíferos, anfíbios e lagartos. Por ter a cauda preênsil, consegue se pendurar em galhos e segurar as presas impedindo-as de escapar.

“Como são animais que estão acostumados a viver isolados em uma ilha e a comer pássaros, eles precisam se instalar no topo das árvores, se disfarçarem por lá, para não deixar as presas escaparem”, ressalta Carlos.

Perigosa

Mas, afinal, a víbora-dos-lábios-brancos é realmente cruel e pior que uma cascavel?

“O veneno da Trimeresurus insularis tem ação local, mais parecido com o das jararacas. A picada causa necrose, mas não tem efeito neurotóxico, que afeta o sistema nervoso, como o veneno da cascavel”, diz Silvia.

Apesar disso, este tipo de envenenamento pode causar grandes danos à saúde. Então, todo o cuidado é pouco.

“O veneno dela é hemolítico, e por isso destrói as hemácias do sangue, causando hemorragias. É também proteolítico, que causa necrose do tecido, corroendo a pele. Este veneno pode ser cruel sim”, explica Carlos.

Outro problema que envolve acidentes com a serpente é que o soro contra este veneno não está disponível no Brasil, já que a espécie é exótica. O Butantan, maior produtor de soros antivenenos da América Latina, produz imunizantes contra venenos de espécies que ocorrem no Brasil. E somente tem ampolas disponíveis contra o soro da víbora por ter um exemplar da espécie no museu.

“É uma grande irresponsabilidade trazer estas serpentes dessa forma, sem qualquer cuidado com o animal e com risco de ocorrer acidentes sem o devido antiveneno disponível”, pondera Silvia.

Visita

Mas qual a verdadeira relação da Santa Rita de Sampa, a protetora dos animais abatidos, com a serpente do Butantan?

“Essa serpente é a nossa ‘ovelha azul’, por que ela é muito diferente, assim como a Rita, que foi inovadora nas ideias, na música e na conservação do meio ambiente através de seus livros. Quisemos fazer essa homenagem pela influência tão importante dela na nossa cultura, especialmente para as mulheres, e para incentivar as meninas a se interessarem mais por ciência”, diz a pesquisadora e diretora do Museu Biológico do Butantan Erika Hingst-Zaher.

Agora só falta você ir visitá-la no Museu Biológico, localizado no Parque da Ciência Butantan.

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