1º empreende Libras apresenta palestra, exposição de produtos e serviços de empreendedores surdos

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“Eu quis estar neste evento para mostrar que os surdos podem sonhar e concretizar os seus sonhos”. Essa foi uma das motivações que fez o dono da franquia II Sordo, Rafael Almeida, participar do “1º Empreende Libras”, evento de empreendedorismo voltado para pessoas surdas, que aconteceu na última sexta-feira (20), na Agência Sebrae Costa Azul.

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A iniciativa resulta da parceria entre o Sebrae e a empresa Quero ser intérprete, como explica a analista de negócios do Sebrae, Letícia Sampaio. “A empresa procurou o Sebrae e fez a proposta. O objetivo e temática do evento tinham a ver com o objetivo da instituição que é atender as micro e pequenas empresas e fomentar o empreendedorismo para todos os públicos, assim fizemos essa parceria”, contou.

O evento reuniu empreendedores surdos que expuseram produtos e serviços, como artes, doces, fotografia e maquiagem, assim como palestras conduzidas por pessoas surdas e temáticas voltadas para o empreendedorismo.

Rafael Almeida, um dos expositores, apresentou os gelatos produzidos da franquia II Sordo. “O gelato tem uma cremosidade, uma densidade maior do que o sorvete, que parece um pouco mais leve”.  Rafael contou do seu interesse pelo empreendedorismo e sobre a sua franquia. “Gosto de empreendedorismo, gosto de investimento e fiquei estudando por um bom período. O projeto Sordo foi criado em Aracaju e, numa sociedade, eu abri uma franquia em Salvador”, explicou.

Para Luana Rodrigues, proprietária do Quero Ser intérprete, o evento dá protagonismo para a comunidade surda, mas também amplia informações para que os empresários possam buscar o desenvolvimento dos seus negócios.

“Muitos surdos empreendem de maneira informal, e essa informalidade acontece por causa das barreiras encontradas dentro da sociedade. E a busca pelo Sebrae se deu pelo o seu objetivo de ajudar a fomentar o empreendedorismo, comigo atuando como essa ponte de comunicação”, expressou.

A bancária, fotógrafa e designer Verena Gila também expôs seus serviços no evento. Enquanto freelancer, ela apresentou suas fotografias, com várias temáticas, como crianças, casamento, mulheres gestantes, entre outras.  Como designer ela também cria convites, cartazes, folders, caixas, presentes e embalagens. Verena ainda comentou sobre a importância dos eventos acessíveis para a comunidade surda.

“O Empreende Libras é importante para que os surdos tenham informações sobre empreendedorismo porque precisam mostrar suas potencialidades. Eu posso ver, outros surdos também podem ver e, assim, temos referências”, pontuou.

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A empreendedora e artista Jamile Simea, da Jamile’s Arts, também expôs as criações artísticas, como mandalas, quadros, relógios para surdos, vários tipos de caixas. A decisão de começar a criar as obras veio da admiração pelo pai, que é pintor.

“Eu queria fazer o mesmo que meu pai, queria fazer arte, utilizar minhas mãos para isso e passei a criar. Eu faço diversos tipos de artes voltadas para o público surdo, porque os ouvintes podem ser atraídos”. Esta é a primeira vez que Jamile expõe seus produtos. “É necessário criar espaços de visibilidade para que as pessoas possam não só comprar a arte, como também apreciar”, diz.

Palestras

O evento seguiu com a palestra dos expositores Verena Gila e Rafael Almeida, com a temática “A independência da pessoa surda na sociedade: história e potencialidade”. Verena Gila tratou das suas escolhas profissionais.

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Com formação em designer e pós-graduação em artes visuais, Verena explicou o interesse em diferentes áreas. “Gosto de fotografia, artes, moda, computação gráfica e diversos outros cursos. Precisava me capacitar profissionalmente”, relembrou. Hoje, ela é bancária e atua como freelancer. “Não tenho vínculo com empresa, posso trabalhar em minha casa e tenho controle sobre meu trabalho como fotógrafa, designer e voluntária”, acrescentou.

Verena também fundou o projeto Novilibras e, com a amiga e cofundadora, Ana Beatriz, ela divulga diversos eventos que ocorrem em Salvador para a comunidade surda por meio do Instagram. O próximo passo para Verena é a criação da empresa jurídica. “Enquanto designer, no futuro, quero ter meu CNPJ porque estou, gradativamente, galgando os espaços para isso”, afirmou.

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Com formação em Libras e em Letras com Libras, Rafael Almeida revela que a inspiração para empreender veio da família. Na busca por criar um negócio ideal, conheceu a gelateria Il Sordo, original de Aracaju. Hoje, como franqueado, emprega outras pessoas surdas, com cinco funcionários em cada uma das duas unidades da empresa em Salvador, localizadas na Barra e no Itaigara.

Para Rafael a comunicação não é um empecilho para atender os clientes. “Usamos outros métodos para nos comunicar, usamos o celular, podemos escrever, assim, temos conseguido nos relacionar bem com os clientes, sem nenhuma intercorrência maior”, explicou.

Para tratar das possibilidades de empreender, a gestora da Agência Sebrae Costa Azul, Mariana Cruz, ministrou a palestra “Empreendedorismo para a comunidade surda”, na qual destacou desafios e oportunidades para este público.  “A barreira mais crítica para os empreendedores é a falta de comunicação entre os ouvintes e os deficientes auditivos”, relatou.

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Ainda assim, as oportunidades de negócios existem. “Temos observado como oportunidades a criação de conteúdos acessíveis tanto presenciais como online. Muitas pessoas já têm a iniciativa de tornar conteúdos mais acessíveis”, reforça a gestora.

Houve um aumento no número de intérpretes e tradutores, entre outras oportunidades. Mariana também apresentou informações sobre as categorias formadas pelas empresas privadas, explicou como se dá a formalização das empresas, entre outras informações.

O período da manhã foi encerrado com a apresentação da poesia “Correndo na rua”, do artista surdo Elinilson Soares, acompanhado do intérprete de Libras Lucas Sol. No período da tarde, o evento seguiu com exposição e palestras.

fonte: Cristiana Fernandes

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